quinta-feira, 16 de abril de 2009

transgressões

o bar era bonito e pouco iluminado. capas de discos antigos e quadros de artistas alternativos decoravam a parede. a cerveja estava gelada. discutíamos sobre língua portuguesa. as opiniões não mudaram. nem as leituras dos cânones da linguística – que defendem a simplificação da linguagem escrita – a faziam mudar de idéia. para ela, a língua escrita deveria seguir ESTRITAMENTE as regras gramaticais e de ortografia. na língua falada, sim, era possível ter maior liberdade.
o exemplo dado era o seguinte:
- posso aceitar que alguém fale 'três pãozinho', mas não posso ser conivente com quem escreve assim.
eu sempre fui um cabeça-dura do contra e, como sempre, defendia a linguagem como algo mutável e popular, que deveria seguir as maiorias e primar pela essência comunicativa. falei que acreditava no fim das regras ou, pelo menos, na minimização delas ao essencial. afinal, se escrevesse todo este texto SEM ACENTOS, seria compreendido, com certeza.
a conversa parecia interminável e longe de um desfecho conciliador. só havia uma forma de acabar com aquilo.
entrelacei meus braços em volta a sua cintura, como fazia sempre que estava brava e beijei seu ombro. ela se calou. beijei seu rosto e acariciei seus cabelos castanhos-escuros, quase negros. disse o quanto a amava e que NENHUMA REGRA: gramatical, ortográfica ou de sintaxe; mudaria aquilo. que éramos maiores.
finalmente, ela se entregou as minhas carícias. a partir daí, o bar era pequeno para nós dois. o mundo e o universo eram pouco para o que sentíamos. em êxtase, nos refugiamos no único lugar onde caberíamos e nos transformaríamos nossos corpos em apenas um...

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