sábado, 12 de fevereiro de 2011

Apenas o Fim

Antônio (Gregório Duvivier) e Adriana (Erika Mader) são Ele e Ela. Na verdade, são “Amor”. Mas vai ser difícil identificar quem é um e quem é o outro com um substantivo sem variação de gênero. Então usarei as demais denominações. Os dois, ao que tudo indica, se amam e tem uma relação relativamente normal, até que Ela decide fugir e abandoná-lo. Essa é a premissa básica de Apenas o Fim, filme idealizado e produzido por estudantes da PUC-RJ, em 2008, com direção e roteiro de Matheus Souza.

Ler estas primeiras linhas leva qualquer um a pensar “puta que o pariu, que porra de mesmice”. Eu mesmo, quando recebi a indicação de uma amiga, tive essa impressão. Mas Apenas o Fim é uma pequena e simples obra-prima, feita especialmente para aqueles que nasceram nas décadas de 1980 e 1990. Quando Adriana chega e descarrega a declaração bombástica – eles tem uma hora para se despedir –, se inicia uma viagem pela cultura pop dos últimos 30 anos que, talvez, nenhum filme tenha explorado tanto. Veja bem. Não estou afirmando que seja melhor que outros. A produção é simples e descompromissada e a atuação do casal não é exatamente primorosa. Mas a forma como a história é conduzida é de fazer com que o jovem adulto com a infância mais traumática sinta nostalgia e relembre como podem ter sido bons aqueles tempos.

Antônio é um nerd típico: óculos de armação grossa (herdado do avô, no caso), camisa polo ou camisetas relacionadas a filmes e músicas (como sua tão mal falada camiseta do Star Wars), calça jeans e All Stars verdes. Adriana é uma neo-hippie, com óculos escuros estilosos, vestidinhos floridos, cabelos compridos e ondulados, rosto perfeitinho e All Stars vermelhos. Ah, na obra, eles são estudantes de cinema. Enfim, o casal é o hype do hype do hype do século XXI. E é por aí que toda a trama faz sentido.

Durante o tempo em que se despedem e, também, nos flashbacks, eles travam discussões triviais sobre, por exemplo, qual a boyband favorita de Antônio ou, declarações como o fato de Ele gostar do jeito que ela toca flauta com o nariz. Para Ele, Ela é o Dick Vigarista da Corrida Maluca. Já Ela odeia a infantilidade dele, por conta de um boneco do He-Man. Que, Antônio explica, é o Fanático, não o He-Man. Existe, claro, todo o romantismo brega-chique, que só aqueles aqueles que hoje possuem entre 20 e 30 anos entendem (embora se envergonhem). Comparações sobre o amor ser relacionado à pizza ou McDonalds estão no centro de bate-papos primorosos de Apenas o Fim. Ou a discussão sobre o quão clichê é falar de amor:

Ele: Você ainda me ama?

Ela: Ai, falar de amor é muito clichê.

Ele: Eu não acho. Acho que falar sobre falar que amor é clichê que é muito clichê.

Para ser sincero, qualquer ícone pop dos últimos anos está presente: Pokémon? Bingo. Cavaleiros do Zodíaco? O Shiryu é o favorito de Antônio. Tiração de sarro com o Niemeyer? Os morros do Rio foram o projeto de formatura dele, em 1522. Michael Jackson? Não preciso dizer. Ursinhos Carinhosos? Óbvio. Pense em qualquer coisa. Se não houver nenhum comentário a respeito do tema na história, comece a se questionar se você realmente viveu no planeta Terra a partir de 1980. Imagine a mesma coisa, caso você não conheça algum dos assuntos debatidos enfáticamente entre Antônio e Adriana.

Apesar de toda minha empolgação, Apenas o Fim é um filme para ser visto sem grandes pretensões, para ser curtido relembrando um passado que, como qualquer outro, não volta mais. E é justamente esta a moral. Acho até que uma das afirmações que Ele faz sobre Ela resume a película: “você é uma farsa, sabia? Uma bem bonitinha, mas uma farsa”.

Enfim, Matheus Souza e equipe criaram uma fraudezinha que encantará toda uma geração por uma qualidade que é impossível se desvencilhar: a identificação. Então assista e identifique-se. É só o que há para dizer.


Um comentário:

Carolinda disse...

Putz, saber que eu tenho idade pra achar que filme sobre década velha é entusiasmante me preocupa.

mas adorei a critica, queero ver;