Passei a manhã recordando do meu falecido bisavô, pai do pai do meu pai. Por nenhuma razão em especial. A imagem do velho Francisco - o Vô Chico - se aprochegou na minha cabeça e ficou. Lembranças das mais variadas percorreram a manhã. Obviamente, não eram aquelas que meu pai e meu avô tinham dele.
Aos oitenta e poucos anos, o velho Chico havia perdido um pouco o ranço e a dureza de homem criado na lida do campo e sem muito tempo para coisas que não fossem relacionadas ao trabalho. Não era, também, mais aquele homem que acreditava que o laço era tão bom para os animais quanto para os filhos. E, apesar de ouvir uma série de histórias, que retomavam a tempos remoto e as vezes desabonavam a imagem dele, Vô Chico sempre fora uma pessoa dócil e carinhosa para com os bisnetos.
Ainda se mantêm bem vivas na minha memória as situações em que ele me colocava no colo e me enchia de histórias sobre como era a vida quando ele era da minha idade. Eu, com meus 6 ou 7 anos, arregalava os olhos para ouvir causos de uma realidade que parecia tão infinitamente distante da minha (agora fico tentando imaginar como seria contar aquela histórias para as crianças de hoje, tão mais diferente está o mundo).
Em outras ocasiões ele me pegava desprevenido e me enchia de cócegas, até que começasse a chorar, de tanto rir. Mas, claro, também tivemos maus momentos. Quando ele inventava de me chamar de Vaguinho, a coisa ENCRESPAVA. Era uma emburração só e ficava corrigindo-o, puto da vida: "é Fa, vô, Fa". E ele passava o resto do dia me chamando de Fa. E foi nessa brincadeira que surgiu meu apelido de infância por parte da família paterna: Fa.
Mas uma coisa que lembro que ele nunca perdeu. Uma daquelas coisas que a gente NUNCA perde, por mais que o tempo passe: o conhecimento que só aqueles que aprenderam muito com a vida e pouco com a escola tem. Todas as vezes que via o meu Vô Chico, recebia uma lição. Não algo professoral, com o intuito de ENSINAR. Ele apenas sentava ao meu lado e me contava, ao pé do fogão a lenha, enquanto comíamos pinhões assados na chapa, como havia se safado das mais diversas situações. A intenção era, muito mais, entreter. Mas tenho certeza que ele sabia que ali, do lado dele, sentado, o Fa estava levando algumas coisas que lhe serviriam de bagagem para o resto da vida.
Há pouco mais de dezessete anos, o destino quis que ele nos deixasse. E, como última homenagem, eu cantei a música favorita dele:
César Passarinho - Guri
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