Sempre que penso em ajeitar o layout do blog, me bate uma preguiça descomunal. Por isso o blog é feio, pouco lido e, principalmente, não tem nenhum link para outros sites/blogs.
Mas tem um carinha que escreve por aí, que não poderia deixar passar.
Leandro Demori foi meu professor num curso de extensão sobre jornalismo cultural.
É rápido, antenado, inteligente e, mais importante, não tem problemas em falar o que quer (sempre com uma bela argumentação. O cara já trabalhou no Terra, desistiu de ser jornalista, foi membrto da
Nova Corja e agora mora na Itália.
Tem um texto que gosto, em especial, e sempre leio e releio. Fala sobre convivência. Vou reproduzi-lo, abaixo.
Conviver é um exercício diário
Mulher entra no ônibus com o filho pela mão. Como não há cobrador ela pega algumas moedas e alimenta a máquina. Espera pelo bilhete. Há três tipos de ticket e, ao comprar aquele válido por apenas uma hora, ela pede ao motorista para assinalar o horário - o sistema é meio índio. Ele não tem caneta. Ela muito menos. Ele começa a explicar o que ela deveria fazer, enquanto ela argumenta que ele deveria ter caneta. Começa uma discussão à italiana, intimidante para quem vê de fora, normal para quem já se acostumou. No meio da gritaria o motorista pede para que ela olhe nos olhos dele enquanto conversam. Ela se irrita e vai sentar junto ao filho, no meio do carro. Lá na frente, um senhor de uns 80 anos puxa papo e o motorista solta um “gente que não te olha nos olhos não é boa”, alto, para que a mulher ouça. Ela resiste, faz de conta que não ouviu, mas o motorista repete a frase. Ela levanta, vai até perto dele e diz que, ao descer, vai pedir para que seu marido embarque no ônibus e lhe encare nos olhos. No meio de uma das avenidas mais movimentadas da cidade o motorista freia o ônibus, levanta do banco e vai até o meio do carro pedir para que alguém seja “testemunha” dele. “Testemunha do que?”, eu pergunto, “o senhor agiu mal, não merece testemunha que não seja de acusação”, emendo. Ele, tentando consertar, diz que só queria explicar o procedimento no caso de um bilhete não marcado e que, afinal de contas, seria importante que a mulher o encarasse enquanto estavam conversando. Ela volta para o meio do ônibus, pega o filho pela mão, pede para que o motorista abra a porta e diz, olhando para baixo:
“Eu não posso te olhar nos olhos, eu sou muçulmana.”
Convivência é algo que se aprende a duras lições.
O link direto pro texto
é este!