*Minha homenagem ao Dia do Samba
Como tudo que é relevante, surgiu por acaso, no improviso, na imaginação. Era 2007, acho. Tinha 24 anos e uma fixação: me especializar em algo. Achava muitos assuntos interessantes, desde física quântica até a importância da geladeira para os esquimós. Mas nada me era tão fascinante quanto o rock.
Mais que um estilo musical aquilo era, para mim, uma filosofia de vida. A representação da luta social sem armas. Ou melhor, com OUTRAS armas. "Essa máquina mata fascistas", cravara Woody Guthrie - um dos principais ícones da música de protesto do século passado e grande influência para o rock 'n roll - no case de seu violão.
De outro lado, esta forma de ver o mundo - e a vida, por consequência -, ganhou contornos populares. Era a bela dualidade: contestação e popularidade. O resto todo mundo já sabe. Os movimentos sociais, a revolução sexual, Serguei comendo a Janis, Hendrix queimando sua guitarra e tocando o horror, os Beatles exorcizando seus fãs com doses cavalares de psicodelia, a essência blueseira dos anos 1950 e o mundo que seguiu adiante e se tornou o que é hoje. Não importa!
Mas, no fim, tudo é lindo e incoerente, como uma declaração de Caetano. Foi exatamente neste momento que a pulga se escondeu atrás da minha orelha. Pensei: onde, pelos infernos, estava o Brasil, enquanto o resto do mundo explodia em hormônios e exaltações rebeldes? Aquilo era sem sentido. Minha epifânia vinha de algo que ocorrera há dezenas de milhares de quilômetros de casa. Totalmente deslocado do meu cotidiano. "Mentiroso", "Judas", exclamariam alguns, acreditando que me rebelei contra o que sempre acreditei. Muito pelo contrário. Tentava descobrir como meu país, meu povo, havia contribuído com isso tudo. Até que um dia cheguei no samba.
Nossa matriz musical foi, para o Brasil, tudo o que o rock foi para Estados Unidos e Reino Unido. Quiçá, até mais! O batuque, tomado emprestado dos escravos, se modernizou na década de 1930. Foi a representação máxima do modo de vida da capital brasileira naquela época – o Rio de Janeiro –, retratando não só o cotidiano das classes, como seus embates e os problemas estruturais em uma sociedade que engatinhava para se organizar. Mais do que isso, o samba transmitia a essência dos desfavores e dos protestos sociais no Brasil. Se Chico Buarque, Os Mutantes, Gal Costa, Maria Bethânia, Toquinho, Vinícius de Moraes e tantos outros nomes da chamada MPB têm relevância, hoje, como vozes que reclamavam as ilegalidades e injustiças da ditadura, muito se deve aos sambistas. Tanto os bambas das periferias e dos morros quanto os músicos de classes mais favorecidas, que abraçaram a causa: mostrar a vida, as angústias, as alegrias, as esperanças e as injustiças do povo.
Não encare este escrito como uma tentativa de comparar dois estilos musicais. Talvez queira, aqui, apenas apresentar o 'achismo' de quem vê a cultura brasileira como algo a ser preservado a admirado. Ok, admito, comparo, sim. Dois estilos de vida. Diferentes em vários planos, mas muito parecidos, na essência. Para mim, samba é rock. E vice-versa!