Música pra hoje. Era só o que eu queria dizer. Mas vale a pena? Dizem que pouco é melhor que nada. Sinceramente, não sei. Mas vou levando. Acho que é sim. Ter teu rosto perto do meu, ouvir tua voz, sentir teus braços me apertando forte, ver teu sorriso, me encantar com a tua beleza me bastam, por agora.
terça-feira, 27 de abril de 2010
terça-feira, 13 de abril de 2010
Apesar dos pesares
Como não poderia deixar de ser, desde sábado, pensamentos nostálgicos rondam minha cabeça. Na verdade, eles sempre estão por perto. Mas em momentos marcantes, decidem dar as caras com força total. Então, mais uma música, só pra lembrar que, apesar dos pesares, as coisas ainda estão neste pé.
domingo, 4 de abril de 2010
Quando éramos jovens.... e inocentes
A conheci no bar ao lado da Universidade. Estava começando o segundo semestre de Jornalismo e era cheio de energia. Pensando bem, talvez não tivesse TANTA energia assim. Mas uma coisa é certa. Tinha mais cabelos. Muito mais.
Ela era quatro anos mais velha. Desiludida com a Publicidade e Propaganda. Mesmo assim, estava decidida a se formar. O motivo? O mesmo da grande maioria dos jovens prestes a terminar a faculdade, que acordam, numa bela manhã de sol, com a certeza de que tudo o que fizeram até então não tinha o menor sentido: para não causar (mais uma) decepção aos pais.
Ela era meu extremo oposto, neste sentido. Aos 18 anos, era um sonhador. Tinha um ideal. Acreditava que podia mudar as coisas. Que estava aqui para fazer A diferença. Mais que isso, tinha um sentimento de pena pela grande maioria dos adultos – o que incluía os meus pais. Acreditava que eles padeciam de alguma fraqueza que os fazia desistir de seus sonhos. Como uma doença degenerativa, que costuma se manifestar nos que têm maus hábitos. Uma espécie de diabetes moral.
Mas isso não era tudo. Na época, TINHA CERTEZA que era imune a esta diabetes. Afinal, eu tinha sonhos, aspirações e a CONVICÇÃO de que o mundo estava ali, bem na minha frente, esperando para ser mudado. Melhor. O mundo estava ali, bem na minha frente, SUPLICANDO para ser mudado. E eu estava ali, bem na frente do MUNDO, com a missão e com a FORÇA necessária para mudá-lo. Não havia como dar errado. Eu sabia o CAMINHO. Eu tinha a ARMA. Era o JORNALISMO.
Lembre-se. Naquele tempo eu não trabalhava, havia recém começado a graduação e tinha a inocência que só os jovens de 18 anos conseguem e têm o direito de sentir. Não me passava pela cabeça que alguém realmente ciente de todos os problemas pelos quais passávamos pudesse, simplesmente, dormir oito horas por noite, tomar café, passar o dia inteiro sentado em uma cadeira cheia de papéis e afazeres cotidianos, ir ao supermercado, voltar para casa, foder sem sentir prazer, dormir oito horas na noite seguinte... Como se nada mais existisse em volta.
Aquilo não fazia sentido. Ninguém se preocupava com as pessoas que passavam fome? Com as guerras, com o desmatamento e a extinção dos animais? Ninguém ligava para a poluição do planeta nem percebia que as sacolas plásticas são uma praga do capeta? Quanta INSANIDADE.
Mas havia solução. Claro. E eu sabia qual era. Eu tinha o poder de mudar tudo aquilo. Nem que fosse sozinho. Porque, em breve, eu seria um jornalista. Afinal, não foi Voltaire quem asseverou que a pena é mais poderosa que a espada, ou algo assim? E ele não podia estar errado.
Mas naquela noite, naquela quarta-feira gelada de agosto, aquela moça me fez refletir, pela primeira vez, se eu realmente estava certo. Mentira. Após dois litros de vinho circa, as únicas coisas que refletiam eram seus olhos embriagados. Mas uma coisa há de ser dita. Alguma coisa foi plantada dentro de mim, naquele momento. Como se a diabetes moral pudesse ser transmitida pelo contato direto com uma pessoa portadora bastando, para tanto, estar próximo – e possuir alguns maus hábitos.
E foram justamente aqueles olhos, cheios de torpor, que foram os responsáveis pela minha infecção. Grandes olhos castanhos, atentos e despertos. Mas de uma tristeza absurda. A tristeza que só aqueles que perdem a guerra da maturidade conseguem expressar. Ela tinha, dentro dela, a dor de quem perdeu a inocência. Dos que percebem que não podem mudar o mundo. Seus olhos me mostravam que não, a Publicidade não era o instrumento pelo qual ela mudaria o mundo. E o pior, queriam me confidenciar que NADA, absolutamente NADA teria serventia neste sentido.
Mas, como disse, naquele momento pouco – ou nada – me interessava o significado daquela percepção. O vinho e as risadas disfarçavam a dor da ocasião. E era só o começo de uma noite agradável a dois.
Os anos passaram, num belo dia de sol, acordei e pensei “o que exatamente eu estou fazendo aqui?”. Fui tomado por algum tipo de amnésia seletiva. Lembrava de tudo. O que havia feito no dia anterior; os cinco anos dormindo oito horas por noite (às vezes um pouco menos, claro), tomando café, trabalhando numa mesa cheia de papéis e afazeres cotidianos, indo ao supermercado, fazendo sexo sem prazer, dormindo oito horas... Recordava, inclusive, daquela moça, que não via há mais de dois anos.
Só que havia uma coisa que eu não tinha a menor ideia. Como diabos eu iria transformar o mundo? A resposta para a pergunta, até então absurdamente óbvia, se tornou totalmente desconhecida. Ou inútil.
Minha existência deixou de fazer sentido, naquele momento. Toda a minha crença havia, do dia para a noite, se transformado em NADA.
Foram tempos difíceis. Me sentia perdido, sem norte. Não tinha perspectivas, não tinha mais, a mínima suspeita sobre qual era minha missão. Entrei em depressão.
Eu, contudo, não sabia de mais uma coisa. Em uma outra bela manhã de sol, acordaria e perceberia que, embora eu não conseguisse carregar o mundo nas costas, havia uma saída. Eu poderia fazer pequenas coisas, que não transformariam o planeta, mas que contribuiriam para, pelo menos, diminuir algumas mazelas.
Hoje parece batido falar essas coisas. Mas foram anos para eu ter essa visão sobre as coisas. E, principalmente, foi algo muito trabalhoso. Lá onde eu venho, isto se chama AMADURECER.
Ela era quatro anos mais velha. Desiludida com a Publicidade e Propaganda. Mesmo assim, estava decidida a se formar. O motivo? O mesmo da grande maioria dos jovens prestes a terminar a faculdade, que acordam, numa bela manhã de sol, com a certeza de que tudo o que fizeram até então não tinha o menor sentido: para não causar (mais uma) decepção aos pais.
Ela era meu extremo oposto, neste sentido. Aos 18 anos, era um sonhador. Tinha um ideal. Acreditava que podia mudar as coisas. Que estava aqui para fazer A diferença. Mais que isso, tinha um sentimento de pena pela grande maioria dos adultos – o que incluía os meus pais. Acreditava que eles padeciam de alguma fraqueza que os fazia desistir de seus sonhos. Como uma doença degenerativa, que costuma se manifestar nos que têm maus hábitos. Uma espécie de diabetes moral.
Mas isso não era tudo. Na época, TINHA CERTEZA que era imune a esta diabetes. Afinal, eu tinha sonhos, aspirações e a CONVICÇÃO de que o mundo estava ali, bem na minha frente, esperando para ser mudado. Melhor. O mundo estava ali, bem na minha frente, SUPLICANDO para ser mudado. E eu estava ali, bem na frente do MUNDO, com a missão e com a FORÇA necessária para mudá-lo. Não havia como dar errado. Eu sabia o CAMINHO. Eu tinha a ARMA. Era o JORNALISMO.
Lembre-se. Naquele tempo eu não trabalhava, havia recém começado a graduação e tinha a inocência que só os jovens de 18 anos conseguem e têm o direito de sentir. Não me passava pela cabeça que alguém realmente ciente de todos os problemas pelos quais passávamos pudesse, simplesmente, dormir oito horas por noite, tomar café, passar o dia inteiro sentado em uma cadeira cheia de papéis e afazeres cotidianos, ir ao supermercado, voltar para casa, foder sem sentir prazer, dormir oito horas na noite seguinte... Como se nada mais existisse em volta.
Aquilo não fazia sentido. Ninguém se preocupava com as pessoas que passavam fome? Com as guerras, com o desmatamento e a extinção dos animais? Ninguém ligava para a poluição do planeta nem percebia que as sacolas plásticas são uma praga do capeta? Quanta INSANIDADE.
Mas havia solução. Claro. E eu sabia qual era. Eu tinha o poder de mudar tudo aquilo. Nem que fosse sozinho. Porque, em breve, eu seria um jornalista. Afinal, não foi Voltaire quem asseverou que a pena é mais poderosa que a espada, ou algo assim? E ele não podia estar errado.
Mas naquela noite, naquela quarta-feira gelada de agosto, aquela moça me fez refletir, pela primeira vez, se eu realmente estava certo. Mentira. Após dois litros de vinho circa, as únicas coisas que refletiam eram seus olhos embriagados. Mas uma coisa há de ser dita. Alguma coisa foi plantada dentro de mim, naquele momento. Como se a diabetes moral pudesse ser transmitida pelo contato direto com uma pessoa portadora bastando, para tanto, estar próximo – e possuir alguns maus hábitos.
E foram justamente aqueles olhos, cheios de torpor, que foram os responsáveis pela minha infecção. Grandes olhos castanhos, atentos e despertos. Mas de uma tristeza absurda. A tristeza que só aqueles que perdem a guerra da maturidade conseguem expressar. Ela tinha, dentro dela, a dor de quem perdeu a inocência. Dos que percebem que não podem mudar o mundo. Seus olhos me mostravam que não, a Publicidade não era o instrumento pelo qual ela mudaria o mundo. E o pior, queriam me confidenciar que NADA, absolutamente NADA teria serventia neste sentido.
Mas, como disse, naquele momento pouco – ou nada – me interessava o significado daquela percepção. O vinho e as risadas disfarçavam a dor da ocasião. E era só o começo de uma noite agradável a dois.
Os anos passaram, num belo dia de sol, acordei e pensei “o que exatamente eu estou fazendo aqui?”. Fui tomado por algum tipo de amnésia seletiva. Lembrava de tudo. O que havia feito no dia anterior; os cinco anos dormindo oito horas por noite (às vezes um pouco menos, claro), tomando café, trabalhando numa mesa cheia de papéis e afazeres cotidianos, indo ao supermercado, fazendo sexo sem prazer, dormindo oito horas... Recordava, inclusive, daquela moça, que não via há mais de dois anos.
Só que havia uma coisa que eu não tinha a menor ideia. Como diabos eu iria transformar o mundo? A resposta para a pergunta, até então absurdamente óbvia, se tornou totalmente desconhecida. Ou inútil.
Minha existência deixou de fazer sentido, naquele momento. Toda a minha crença havia, do dia para a noite, se transformado em NADA.
Foram tempos difíceis. Me sentia perdido, sem norte. Não tinha perspectivas, não tinha mais, a mínima suspeita sobre qual era minha missão. Entrei em depressão.
Eu, contudo, não sabia de mais uma coisa. Em uma outra bela manhã de sol, acordaria e perceberia que, embora eu não conseguisse carregar o mundo nas costas, havia uma saída. Eu poderia fazer pequenas coisas, que não transformariam o planeta, mas que contribuiriam para, pelo menos, diminuir algumas mazelas.
Hoje parece batido falar essas coisas. Mas foram anos para eu ter essa visão sobre as coisas. E, principalmente, foi algo muito trabalhoso. Lá onde eu venho, isto se chama AMADURECER.
sexta-feira, 2 de abril de 2010
O Flautista de Hamelin
Minha história "infantil" preferida. Em homenagem ao Dia Mundial do Livro Infanto-Juvenil. Mas meu conto não é do Hans Christian Andersen. Homenageá-lo com o título de maior escritor de "historinhas de crianças" é uma grande falácia - embora sua contribuição tenha sido, no mínimo NOTÁVEL, no que se refere a literatura para crianças. Prefiro, de longe, os Irmãos Wilhelm e Jacob Grimm, que escreveram a fábula mais fascinante da história, o
Flautista de Hamelin
Há muito, muitíssimo tempo, na próspera cidade de Hamelin, aconteceu algo muito estranho: uma manhã, quando seus gordos e satisfeitos habitantes saíram de suas casas, encontraram as ruas invadidas por milhares de ratos que iam devorando, insaciáveis, os grãos dos celeiros e a comida de suas bem providas despensas.
Ninguém conseguia imaginar a causa de tal invasão e, o que era pior, ninguém sabia o que fazer para acabar com tão inquietante praga.
Por mais que tentassem exterminá-los, ou ao menos afugentá-los, parecia ao contrário que mais e mais ratos apareciam na cidade. Tal era a quantidade de ratos que, dia após dia, começaram a esvaziar as ruas e as casas, e até mesmo os gatos fugiram assustados.
Ante a gravidade da situação, os homens importantes da cidade, vendo perigar suas riquezas pela voracidade dos ratos, convocaram o conselho e disseram: Daremos cem moedas de ouro a quem nos livrar dos ratos.
Pouco depois se apresentou a eles um flautista taciturno, alto e desengonçado, a quem ninguém havia visto antes, e lhes disse: "A recompensa será minha. Esta noite não haverá um só rato em Hamelin".
Dito isso, começou a andar pelas ruas e, enquanto passeava, tocava com sua flauta uma melodia maravilhosa, que encantava aos ratos, que iam saindo de seus esconderijos e seguiam hipnotizados os passos do flautista que tocava incessantemente.
E assim ia caminhando e tocando, levou-os a um lugar muito distante, tanto que nem sequer se poderia ver as muralhas da cidade.
Por aquele lugar passava um caudaloso rio onde, ao tentar cruzar para seguir o flautista, todos os ratos morreram afogados.
Os hamelineses, ao se verem livres das vorazes tropas de ratos, respiraram aliviados. E, tranqüilos e satisfeitos, voltaram aos seus prósperos negócios e tão contente estavam que organizaram uma grande festa para celebrar o final feliz, comendo excelentes manjares e dançando até altas horas da noite.
Na manhã seguinte, o flautista se apresentou ante o Conselho e reclamou aos importantes da cidade as cem moedas de ouro prometidas como recompensa. Porém esses, liberados de seu problema e cegos por sua avareza, reclamaram: “Saia de nossa cidade! Ou acaso acreditas que te pagaremos tanto ouro por tão pouca coisa como tocar a flauta?".
E, dito isso, os honrados homens do Conselho de Hamelin deram-lhe as costas dando grandes gargalhadas.
Furioso pela avareza e ingratidão dos hamelineses, o flautista, da mesma forma que fizera no dia anterior, tocou uma doce melodia uma e outra vez, insistentemente.
Porem esta vez não eram os ratos que o seguiam, e sim as crianças da cidade que, arrebatadas por aquele som maravilhoso, iam atrás dos passos do estranho músico. De mãos dadas e sorridentes, formavam uma grande fileira, surda aos pedidos e gritos de seus pais que, em vão, entre soluços de desespero, tentavam impedir que seguissem o flautista.
Nada conseguiram e o flautista os levou longe, muito longe, tão longe que ninguém poderia supor onde, e as crianças, como os ratos, nunca mais voltaram.
E na cidade só ficaram a seus opulentos habitantes e seus bem repletos celeiros e bem cheias despensas, protegidas por suas sólidas muralhas e um imenso manto de silêncio e tristeza.
E foi isso que se sucedeu há muitos, muitos anos, na deserta e vazia cidade de Hamelin, onde, por mais que se procure, nunca se encontra nem um rato, nem uma criança.
Sim, a história é uma recriação de uma lenda germânica do século XIII - ou, talvez, de um relato real, não se sabe - que narra um acontecimento pra lá de estranho em que todas as crianças da cidade de Hamelin desaparecem misteriosamente. Entre as versões para o ocorrido, está a de um serial killer que atacava as crianças daquela região. Se é verdade, não sei.
Flautista de Hamelin
Há muito, muitíssimo tempo, na próspera cidade de Hamelin, aconteceu algo muito estranho: uma manhã, quando seus gordos e satisfeitos habitantes saíram de suas casas, encontraram as ruas invadidas por milhares de ratos que iam devorando, insaciáveis, os grãos dos celeiros e a comida de suas bem providas despensas.
Ninguém conseguia imaginar a causa de tal invasão e, o que era pior, ninguém sabia o que fazer para acabar com tão inquietante praga.
Por mais que tentassem exterminá-los, ou ao menos afugentá-los, parecia ao contrário que mais e mais ratos apareciam na cidade. Tal era a quantidade de ratos que, dia após dia, começaram a esvaziar as ruas e as casas, e até mesmo os gatos fugiram assustados.
Ante a gravidade da situação, os homens importantes da cidade, vendo perigar suas riquezas pela voracidade dos ratos, convocaram o conselho e disseram: Daremos cem moedas de ouro a quem nos livrar dos ratos.
Pouco depois se apresentou a eles um flautista taciturno, alto e desengonçado, a quem ninguém havia visto antes, e lhes disse: "A recompensa será minha. Esta noite não haverá um só rato em Hamelin".
Dito isso, começou a andar pelas ruas e, enquanto passeava, tocava com sua flauta uma melodia maravilhosa, que encantava aos ratos, que iam saindo de seus esconderijos e seguiam hipnotizados os passos do flautista que tocava incessantemente.
E assim ia caminhando e tocando, levou-os a um lugar muito distante, tanto que nem sequer se poderia ver as muralhas da cidade.
Por aquele lugar passava um caudaloso rio onde, ao tentar cruzar para seguir o flautista, todos os ratos morreram afogados.
Os hamelineses, ao se verem livres das vorazes tropas de ratos, respiraram aliviados. E, tranqüilos e satisfeitos, voltaram aos seus prósperos negócios e tão contente estavam que organizaram uma grande festa para celebrar o final feliz, comendo excelentes manjares e dançando até altas horas da noite.
Na manhã seguinte, o flautista se apresentou ante o Conselho e reclamou aos importantes da cidade as cem moedas de ouro prometidas como recompensa. Porém esses, liberados de seu problema e cegos por sua avareza, reclamaram: “Saia de nossa cidade! Ou acaso acreditas que te pagaremos tanto ouro por tão pouca coisa como tocar a flauta?".
E, dito isso, os honrados homens do Conselho de Hamelin deram-lhe as costas dando grandes gargalhadas.
Furioso pela avareza e ingratidão dos hamelineses, o flautista, da mesma forma que fizera no dia anterior, tocou uma doce melodia uma e outra vez, insistentemente.
Porem esta vez não eram os ratos que o seguiam, e sim as crianças da cidade que, arrebatadas por aquele som maravilhoso, iam atrás dos passos do estranho músico. De mãos dadas e sorridentes, formavam uma grande fileira, surda aos pedidos e gritos de seus pais que, em vão, entre soluços de desespero, tentavam impedir que seguissem o flautista.
Nada conseguiram e o flautista os levou longe, muito longe, tão longe que ninguém poderia supor onde, e as crianças, como os ratos, nunca mais voltaram.
E na cidade só ficaram a seus opulentos habitantes e seus bem repletos celeiros e bem cheias despensas, protegidas por suas sólidas muralhas e um imenso manto de silêncio e tristeza.
E foi isso que se sucedeu há muitos, muitos anos, na deserta e vazia cidade de Hamelin, onde, por mais que se procure, nunca se encontra nem um rato, nem uma criança.
Sim, a história é uma recriação de uma lenda germânica do século XIII - ou, talvez, de um relato real, não se sabe - que narra um acontecimento pra lá de estranho em que todas as crianças da cidade de Hamelin desaparecem misteriosamente. Entre as versões para o ocorrido, está a de um serial killer que atacava as crianças daquela região. Se é verdade, não sei.