domingo, 25 de outubro de 2009

Damask

Meu gosto pela (boa) culinária é conhecido mundialmente por todo o andar do meu prédio. Ao viajar a lugares desconhecidos, minha primeira preocupação é descobrir os restaurantes típicos, as lancherias tradicionais (ta bom, isso vem depois de descobrir os botecos que vendem cerveja barata). Mas em Porto Alegre também procuro vasculhar os pontos gastronômicos. E minha mais grata surpresa foi um restaurante árabe que conheci no início do ano: o Damask.
Localizado na rua Sofia Velloso, 61, próximo à efervescência dos bares da Cidade Baixa, o local, além de ser agradável e de ter um ótimo atendimento, deve ter a melhor relação custo-benefício da Capital.
Um falafel delicioso e um kibe cru que dá de 10 em vários restaurantes que se dizem árabes. Além disso, os preços são extremamente acessíveis. Uma janta composta por um prato mix (que inclui uma seleção de pastas, shawerma, falafe e outras delícias) mais um kibe cru, que satisfaz duas pessoas tranquilamente e, deve sair em torno de R$ 30. Mais barato que comer dois xis no Cavanha's.

Nota: agendar uma visita em breve.

sábado, 17 de outubro de 2009

A fábula dos cotovelos

Uma das bibliografias do meu trabalho de conclusão de curso é o livro Jornalismo Literário, do jornalista (dã) Felipe Pena. Pena abre o primeiro capítulo com um texto que ele chama de fábula dos cotovelos, uma história que, embora envolva o céu, o inferno, o diabo e São Pedro, nos traz uma moral muito humana esquecida: a convivência é uma via de mão dupla. Esse textinho resume muito meus princípios e ideais (sim, sou um bobo inocente que acredita que não temos nada a ganhar quando estamos sozinhos e, também, alguém que fica muito puto quando vê alguma injustiça - ou quando se sente injustiçado). Acho que vale a pena a leitura:

Um sujeito magro, quase careca, daqueles de poucos fios ao lado da cabeça, com uma barriga saliente e o pensamento no umbigo do mundo, tira a carteira do bolso e se identifica para o despachante.

- Sou jornalista - diz

- Jornalista, é?

- É jornalista!

- E porque o jornalista precisa de um despachante?

- Quero fazer uma reportagem comparativa e preciso entrar em dois lugares muito diferentes. Você pode me ajudar?

O despachante analisa a face amarela do homem à sua frente. Fixa os olhos na testa longa, umedecida, revelando a oleosidade da pele fina. Tenta adivinhar seus pensamentos, mas esbarra na concentração tibetana do jornalista, que devolve o olhar fixo com uma intensidade ainda maior, quase fulminante, reservada apenas aqueles que acreditam ter uma missão a cumprir.

- E a que lugares o amigo deseja ir?

- Ao céu e ao inferno - respondeu o repórter.

- Hum! Não é tão difícil. As estradas parecem opostas, mas são paralelas.

Da gaveta da escrivaninha, o despachante puxa uma lista de formulários já carimbados e entrega-os ao repórter. Após o preenchimento, assina dois passes quase idênticos, grampeia os canhotos das fichas e coloca-os em plásticos transparentes.

- Aqui estão os passes. São válidos para uma única entrada em cada local. Você sabe a quem procurar?

- Sei - respondeu o jornalista.

- Então, boa sorte.

Com os documentos no bolso, o jornalista encaminha-se para o inferno. É recebido pelo Demônio em pessoa no portal de fogo que dá acesso ao local. Passa por um corredor estreito, vira à direita em uma pequena ante-sala e logo se depara com o salão principal, de tamanho infinito, onde estão milhões de pessoas.

Ao analisar os habitantes daquele antro, repara na felicidade geral. Todos estão cantando, dançando e rindo à toa. Parecem gozar de boa saúde, não tem aborrecimentos, passam o dia em festas, não há ofensas, doenças, humilhações, inveja ou qualquer outro tipo de mazela. A paisagem é paradisíaca. Árvores frutíferas, cachoeiras, rios de água transparente, longos vales e montanhas. Um lugar fantástico, pensa, não fosse por um único detalhe: depois de um certo tempo, todos acabam morrendo de fome, já que os moradores do inferno têm os cotovelos invertidos e não podem levar comida até a boca.

Sem conseguir tirar aquela imagem da cabeça, retira-se pela mesma porta por onde entrara.

Intrigado e perplexo, segue viagem rumo ao céu, a segunda metade do itinerário de sua reportagem, imaginando a frustração que deve ser morrer de fome em um lugar tão bonito como o inferno. Tudo culpa dos cotovelos invertidos. Quando chega ao destino, passa pelo mesmo ritual. Entrega os documentos a São Pedro, que o conduz a um grande portão de nuvens. Passa por um corredor estreito, vira à direita numa ante-sala e, novamente, depara-se com um salão infinito. Lá dentro, a surpresa: estava diante das mesmas pessoas, das mesmas paisagens, da mesma felicidade.

No céu, assim como no inferno, todos riam, tinham saúde e também passavam o dia em Festas. Da mesma forma, ali estavam as árvores frutíferas, os rios, os vales e as montanhas, como se fossem cópias do que vira na primeira parte de sua viagem. Passou, então, a observar os habitantes do céu e logo percebeu que eles também tinham os cotovelos invertidos. Pensou:

- Aqui, eles também devem morrer de fome depois de um tempo.

Estava errado. No céu, ninguém morre de fome, porque cada um leva a comida à boca do próximo na hora das refeições. E essa é a única coisa que o diferencia do inferno.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Sobre Montevideo

Estou devendo a mim mesmo um texto sobre a viagem a Montevideo. Talvez demore um pouco. Voltar a rotina diária depois deste feriado foi praticamente um choque cultural. Não que a cidade ou os costumes sejam tão diferenciados (bem pelo contrário), mas toda o clima do final de semana me deixou fora de órbita. Mas logo ele vem (e, muito provavelmente será LOOOONGO).

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

As Olimpíadas de 2016

Torci, torci sim pelas olimpíadas no Rio. Como brasileiro tenho essa obrigação. Um evento desse porte tem tudo para impulsionar os investimentos em infra estrutura a níveis nunca vistos. Nenhum país se desenvolveu sem a criação de uma mentalidade de fiscalização. E o Extra foi o primeiro jornal tentar plantar esse embrião. Na capa abaixo, o jornal faz uma crítica bem humorada e real da situação do Rio (e de um monte de cidades do país), que precisa de mudanças estruturais e, principalmente, culturais drásticas. E isso não é para receber um grande evento, mas para que o caos não tome conta.
É por isso que o Brasil PRECISA de uma olimpíada!

domingo, 4 de outubro de 2009

La Negra

Sempre considerei minha avó como uma pessoa desligada da política. Claro, no sentido partidário. Mas ela sempre tentou fazer com que eu assimilasse alguns valores que, segundo ela, seriam indispenáveis para que uma criança se torne uma 'boa pessoa' (seja lá o que a expressão 'boa pessoa' queira dizer). Puritana e católica, volta e meia me passava algum sermão: quando encontrava minhas revistas e meus filmes pornográficas ou algum livro que ela achava que "não é para a tua idade". E, fazendo isso, jogava o material IMPRÓPRIO no lixo.

É claro que essa reação não era pessoal e não era apenas eu quem perdia os bens para a lixeira. Meu tio, filho mais novo dela, também passava por esse tipo de situação. E, como ele tinha coisas que eu não podia ter - por diversas razões, incluindo o fato de eu não ter dinheiro pra comprar - me acostumei a esconder-me perto da lixeira para resgatar os bens dele.

Normalmente eram coisas tão ou mais sem graça que as minhas: revistas e filmes de putaria, cigarros, camisinhas - que serviam para eu conseguir alguma vantagem com meu tio para devolvê-las.

Um dia, no entanto, eu vi uma coisa diferente. Quer dizer, já tinha visto centenas de objetos como aquele. Um compacto de vinil. E minha cabecinha pré-adolescente ficou encanadíssima com aquilo. O que diabos um vinil estaria fazendo no lixo? Aquilo PRECISAVA ser averiguado.

Naquela época eu não entendia nada sobre música de protesto, muito menos tinha noção de que as artes da política podem ser coisas tão relacionadas e íntimas (se eu tivesse 13 anos hoje, acho que minha verdade pré-adolescente não estaria muito longe da verdade). Foi assim que eu surrupiei aquele disquinho, tentando imaginar como faria para ouví-lo sem que ninguém percebesse.

Felizmente, eu tinha um walkman, um 3 em um e uma (rara) boa idéia. Tirei o volume do som, coloquei o disco para tocar, gravei em uma fita cassete e devolvi o disco ao lixo (infelizmente, às vezes temos que fazer alguns sacrifícios). Não podia deixar pistas, afinal, um disco era apenas um DISCO: tocava histórias infantis, músicas para crianças, hits pops e hinos de natal (tudo muito bonito, tudo muito cristão). Se aquele antro, que era destino de todas as coisas não-cristãs do mundo, havia recebido aquele objeto, era porque havia alguma coisa 'dentro' de um vinil que eu ainda não conhecia.

Inventei uma desculpa qualquer e saí de casa para um passeio. Fui a um parque perto de casa e coloquei a fita para rodar. Lembro como se fosse hoje a sensação que tive quando ouvi a voz dela pela primeira vez. Era católico praticante na época. E lembrei de quando o pessoal do grupo em que frequentava falava sobre como os grandes profetas haviam iniciado sua jornada de pregação por meio da revelação (que na doutrina católica tem um nome específico, mas que não lembro agora o nome). Naquela hora tive a MINHA revelação. Ela era tão confusa como seria uma enviada por um arcanjo de deus, mas eu percebi uma coisa que até hoje não sei exatamento como o fiz: uma mulher com aquela voz devia incomar MUITA GENTE.

Um engraçadinho qualquer pode interpretar de forma errada, então vou tentar explicar melhor: quando eu ouvi aquela fita e senti aquela voz ao mesmo tempo forte e serena, desafiadora e acolhedora, eu tive certeza que ali havia um discurso em defesa de alguém ou de alguma coisa que estava sendo subjugada. E, principalmente, sabia que o que era cantado não seria do agrado de um grupo que mandava em alguém ou em alguma coisa.

Na época eu tinha apenas 13 anos e não entendi quase nada do que aquilo quis dizer. Mas a situação foi o embrião para o surgimento de uma rebeldia sem a qual acho que teria me tornado uma pessoa bitolada e sem nenhum senso crítico (dominado por uma filosofia judaico-cristã podadora). E a culpada disso tudo é essa senhora:

Mercedes Sosa, La Negra Sosa, era a cantora em questão. Forte defensora dos direitos humanos na época das ditaduras na América Latina, defensora dos que não tinham voz, mulher firme que mesmo diante de todas as adversidades, não fugia de sua luta. Foi ela, ha mais de 10 anos, quem me abriu os olhos para um mundo novo, onde a busca por justiça social e igualdade de direitos deveria ser prioridade. Onde quem tem voz deve falar pelos que não tem.

A ida dela deixa um vazio muito grande - podemos contar nos dedos os grandes nomes das artes no dias de hoje - mas nos remete a um momento de reflexão sobre a nossa função no mundo. Para mim, pelo menos, é momento de rever atitudes, objetivos. Talvez, esteja me perdendo do caminho que decidi trilhar ao escolher o jornalismo, por exemplo.

É hora de repensar minha vida e tomar um rumo!

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

As coisas não podem ser mais fáceis?

A cada dia, parece mais difícil te esquecer. Teu cheiro parece ter impregnado meus lençóis. Cada música em espanhol que escuto lembra algum momento de nossa história. Em tudo o que eu faço, que eu vejo, que eu escuto, que eu toco, que eu lembro, me dá um vazio, como se não fosse completo sem a tua presença.
Quando eu olho para algo e vejo a visão ficar mais turva, recordo de quando tu me disse que estaria do meu lado. Não cobro nada. Só queria que fosse mais fácil!